Mais uma vez o manto negro da noite tinge o céu da cidade como uma sombra viva.Suga as cores das ruas até que elas se tornem apenas manchas.Tons esmaecidos.Lentamente transforma os contornos dos telhados em muros, dissolvidos num caos de linhas imprecisas...Traz a indagação, o silêncio, a suspeita.Da vida aos mais secretos desejos humanos e também as criaturas da noite...
Muitos já estão dormindo outros estão se divertindo, e apenas alguns estão sentindo o terror, o pânico.Fugindo de algo que não sabem se é perigoso, real, ou só ilusão...
O ultimo raio do sol foi engolido pelas sombras.A noite esfria...Neblina nas vielas.Pessoas estranhas passam por mim, as luzes irritam meus olhos, os faróis autos me atormentam;
Andando sozinha na rua.Parei em uma praça escura e deserta, sentei-me num banco para aguardar algo que não sabia o que era, nem se viria.No meio da praça havia uma igreja, velha e estranha.Parecia abandonada e estava com a porta entreaberta.Curiosa fui até as escadas que davam acesso a porta.Tentei ver algo dentro dela, mas estava tudo escuro...Apenas algumas velas que não eram suficientes, iluminavam o lugar.Subi mais alguns degraus e mesmo assim nada vi.Só pude sentir que o lugar estava quente e abafado.Uma variedade de cheiros...Odores e fragrâncias desconhecidas.O medo me dominou e não me deixou entrar, então atordoada com a energia daquele lugar, virei-me para ir embora e ao olhar para traz, as poucas velas tinham se apagado.Isso me deixou mais confusa ainda.Continuei andando e achei melhor pensar que foi o vento.
Caminhando solitária percebi uma pessoa caminhando á minha frente, do outro lado da rua.Usava um, sobretudo negro e por isso não pude distinguir se era homem ou mulher.
Parei um minuto para pegar um chiclete que estava em meu bolso.E quando levantei o rosto a pessoa tinha desaparecido.Continuei andando, sem rumo sem destino.
Parei num bar pra tomar um chá (aquela noite estava fria.), tomei rápido e sai.As luzes, o barulho dos bêbados...Tudo estava me irritando, faziam eco em minha cabeça.
As coisas que estavam acontecendo naquela noite me deixavam cada vez mais perturbada.Estava ficando tarde e perigoso mais algumas horas e o sol nasceria.Sendo assim, achei melhor voltar para casa...Eu e minha solidão.Á duas quadras do bar me deparei de frente com aquela pessoa.Agora posso ver seu rosto e ouvir sua voz.
_Boa noite!(a pessoa me disse).
Respondi: _Boa noite.(Agora vejo mais claramente).
Era um rapaz lindo.Tinha cabelos negros, lisos e compridos...Na altura dos ombros, preso com um elástico.Era de um tipo latino, um corpo fortificado, e seus olhos eram negros como a noite. Seu rosto se iluminou com a luz da lua.
Ficou estranhamente belo.Tinha uma personalidade magnética, Uma aparência sedutora, e bela quase agressiva e violenta...E um olhar selvagem com um intenso brilho.
Hipnotizada por sua beleza, fique –lhe observando até que ele me tirou do ‘’transe’’.E me perguntou:
_O que faz caminhando sozinha há esta hora?
Respondi:
_Procuro algo!
Ele me olhou com um ar de mistério e disse:
_Nessa noite tão sombria, você procurando algo e eu querendo fazer alguém feliz!
Não entendi o que ele quis dizer; Mas dei continuidade á conversa...
_Numa noite tão fria, ruas desertas, não tem medo que algo possa lhe acontecer?
_Do mesmo jeito que você está aqui, eu estou...
De repente ele se virou e disse:
_Vou lhe dar um voto de misericórdia!
E saiu correndo por uma viela, não pude ficar parada e fui atrás dele...Como não sabia seu nome, corri em silêncio.A viela dava acesso á linha do trem, e no fim dela havia um matagal.Foi ali que ele parou, olhou para mim com os olhos de diamante e disse sorrindo, com seus dentes pontudos e afiados:
_Corra antes que seja tarde!
Eu nunca tinha visto nada igual, de repente ele se transformou em um monstro.
Tentei correr eu estava paralisada de medo.Minhas pernas travaram, fiquei com a mente louca, desesperada...Querendo correr e escutando sua voz, antes doce e linda, agora rouca, medonha e cínica me mandando ir embora...Dizendo:
_Corra, vá embora...Não vou lhe dar a noite toda para fugir!
Depois disto só me lembro dele pulando em cima de mim, inclinando minha cabeça e mordendo vagarosamente meu pescoço.
Agora estou aqui, na mesma praça morrendo de sede e aguardando alguma coisa.
Camila Moura