Tenho um amigo lobo,
um eremita das florestas,
morador de uma morada solitária,
engolida pelo abraço da natureza.
É uma alma silente,
que degusta o néctar rubro do vinho,
e deixa seu uivo cortar o véu da noite,
uma oferenda à lua cheia.
Meu amigo lobo,
carrega a alma despida,
transparente como o cristal.
Mas por que tanto exílio?
Olha o arrebol tingir o firmamento,
com lágrimas que escorrem do ontem.
O presente é um eco distante,
esquecido nos confins do agora.
Ele coleciona retratos desbotados,
vestígios de lobas que partiram,
fugiram para estados além,
deixando rastros na memória.
O amor, uma dor cravada no peito,
não conhece epílogo.
Como um devoto do sofrimento,
ele se desfaz, gota a gota,
alimentando-se de lembranças.
Um canceriano, prisioneiro da sina,
que abraça o espinho da saudade,
e dança na chuva das suas próprias lágrimas.
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