3 Conto da Vampira: novembro 2024

Vinhos,versos e veias |Covil Digital de uma vampira Insone....

sábado, 30 de novembro de 2024

Meu amigo Lobo dos olhos âmbar

 Tenho um amigo lobo,

um eremita das florestas,
morador de uma morada solitária,
engolida pelo abraço da natureza.

É uma alma silente,
que degusta o néctar rubro do vinho,
e deixa seu uivo cortar o véu da noite,
uma oferenda à lua cheia.

Meu amigo lobo,
carrega a alma despida,
transparente como o cristal.

Mas por que tanto exílio?
Olha o arrebol tingir o firmamento,
com lágrimas que escorrem do ontem.
O presente é um eco distante,
esquecido nos confins do agora.

Ele coleciona retratos desbotados,
vestígios de lobas que partiram,
fugiram para estados além,
deixando rastros na memória.

O amor, uma dor cravada no peito,
não conhece epílogo.
Como um devoto do sofrimento,
ele se desfaz, gota a gota,
alimentando-se de lembranças.

Um canceriano, prisioneiro da sina,
que abraça o espinho da saudade,
e dança na chuva das suas próprias lágrimas.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Noturna Nômade





Sob o manto aveludado da noite,
Ela desperta, eternamente jovem.
Seus olhos, poços de séculos vividos,
Brilham com o fogo de mil luas.

Vampira boêmia, alma errante,
Dança entre sombras e luz de velas.
Seu sangue, vinho tinto envelhecido,
Embriaga-se de arte e liberdade.

Com unhas pintadas de escarlate,
Dedilha violinos fantasmagóricos.
Sua voz, um sussurro de eras passadas,
Canta baladas de amor imortal.

Nos cafés à meia-noite,
Conspira com poetas e pintores.
Sua pele de mármore reflete
O brilho efêmero de vidas mortais.

De cidade em cidade vagueia,
Caravana de um só membro.
Leva consigo apenas memórias
E uma sede insaciável por experiências.

Seus beijos, doces como absinto,
Embriagam almas desavisadas.
Mas seu coração, ah, seu coração,
Pertence à estrada e ao horizonte distante.

Nas noites de lua cheia,
Dança fogueiras com espíritos ciganos.
Seu vestido de seda negra rodopia,
Misturando-se às sombras da floresta.

Vampira, boêmia, cigana,
Três almas em um corpo eterno.
Imortal, porém sempre em busca
Da essência fugaz da vida.


segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Sonhei com ovelhas de cor bordô




Sonhei com ovelhas de cor bordô,

rebordosa estava eu, inquieta.

Neste teatro onírico do subconsciente,
onde o absurdo dança com o sublime,
vi-me pastoreando pensamentos carmesins,
cada balido, um enigma a ser decifrado.

Rebordosa, sim - à beira de um precipício de ideias,
onde a lã se tece com fios de inquietação.
Será que conto ovelhas para dormir,
ou elas me contam para que eu desperte?

Em um mundo onde o normal é cinza,
sonhar em bordô é um ato de rebeldia.
Que mistérios se escondem nestes sonhos pigmentados?
Que verdades se revelam nesta inquietude noturna?

Acordo, e o mundo parece desbotado.
Mas em algum lugar, além do horizonte da consciência,
um rebanho bordô pasta serenamente,
esperando meu retorno ao reino dos sonhos.

Obsessão por Rosas


pétalas vermelhas aveludadas como sangue coagulado não consigo parar de tocá-las sua textura me hipnotiza o perfume invade meus sentidos me transporta para jardins secretos onde cada flor sussurra segredos antigos rosas rosas por toda parte brotando das paredes do teto do chão elas crescem dentro de mim suas raízes entrelaçadas com minhas veias espinhos perfuram minha pele mas a dor é doce um lembrete de que estou vivo e elas também vivas pulsando com uma energia que não consigo compreender totalmente quero me afogar em um mar de rosas mergulhar em seu aroma intoxicante até que não haja mais nada além de vermelho e perfume e suavidade cada rosa é única um universo em miniatura de beleza e mistério conto as pétalas obsessivamente um dois três quatorze vinte e uma nunca é o mesmo número duas vezes as rosas zombam da minha tentativa de entendê-las elas são caprichosas mutáveis como o amor que representam amor ah o amor tão belo tão cruel como as próprias rosas atraentes e perigosas não consigo dormir sem um buquê ao lado da cama seu perfume infiltra meus sonhos tingindo-os de carmesim e ouro acordo com pétalas nos lábios não sei se as comi durante a noite ou se elas cresceram dentro de mim brotando de meu coração faminto por beleza planto rosas em cada centímetro do jardim elas sufocam todas as outras plantas mas não me importo só há espaço para rosas em meu mundo monocromático de vermelho e verde coleciono variedades raras gasto fortunas em bulbos exóticos cada nova flor é um tesouro a ser adorado fotografado preservado para a eternidade seco pétalas entre as páginas de livros de poesia transformo minha casa em um santuário de rosas pinturas de rosas tapeçarias de rosas esculturas de rosas até o papel de parede é um emaranhado de rosas trepadeiras às vezes penso que estou ficando louca mas então uma rosa desabrocha e toda a loucura faz sentido pois como se pode ser são em um mundo que produz tal beleza como se pode não ser consumido pela perfeição de uma única rosa multiplicada ao infinito rosas rosas rosas elas são meu início meu fim minha obsessão minha salvação minha ruína minha eternidade.



domingo, 24 de novembro de 2024

Solidão Noturna

A noite se estende como um gato preguiçoso
    Lambendo feridas invisíveis com sua língua de veludo negro

Conto ovelhas
    1... 2... 3...
        Elas se transformam em lobos
            Uivando para uma lua que se recusa a aparecer.

Asas no vazio


 


 Asas no vazio

 no quadrado do silêncio,

as sombras dançam.
asas negras,
pousos incertos,
se arriscam no branco.

folhas fixas,
movimento que não vem.
voam os olhos,
não os pés.

morcegos em versos,
silhuetas cortam o espaço.
um susto de tinta
no meio do acaso.

preto no branco,
formas em fuga.
quem vê?
quem fica?
sombras planam
sem barulho.

o escuro é pausa,
o claro espera.
asas no vazio
emolduram a quimera.

Morcegos me assombram

Morcegos me assombram,
Frutas em minha mente

Atormentam os pesadelos
Nas sombras, incessantemente.

Suas asas batem,
Refletindo a solidão.
Seus dentes no meu pescoço
Sugam a energia da multidão.

Morcegos me assombram
Em meus pesadelos:
Debaixo da cama,
Dentro do espelho.

Me vejo desnuda,
Com asas de morcego,
Olhando o reflexo

Em puro desespero.

As sombras me envolvem,

O espelho se parte.
Sou fragmento e vazio,
Sou caos que arde.

As asas, agora minhas,
Rasgam o véu da razão.
Um grito ecoa ao longe,
Perdido na escuridão.

Morcegos me assombram,
Mas já não fujo do medo.
Na dança das trevas,
Aceito meu segredo

terça-feira, 12 de novembro de 2024

O Natal Está Morto

 

 O Natal está morto,

O brilho se apagou,

As casas agora se preocupam

Com a conta de luz, que não perdoou.

As ruas estão vazias,
Sem passos a ecoar,
Os fogos não riscam o céu,
E o silêncio vem para reinar.

Familiares que brigam,
Palavras cortantes no ar,
Onde antes havia união,
Agora o ódio parece reinar.

As árvores, sem ornamentos,
São sombras de um tempo ido,
O espírito se perdeu,
Em um mundo atribulado e perdido.

E o Natal, que antes brilhava,
Hoje se esconde no passado,
Deixando atrás apenas
O vazio do que foi sonhado.

A Fome Disfarçada

 Lara tava ali no centro da cidade, quase amanhecendo, e finalmente encontrou o que tanto procurava: uma escova de dentes velha, largada num beco sujo. Era uma escova usada, claro, e qualquer um acharia aquilo nojento, mas pra ela tinha um significado: era a chave pra fingir que era uma pessoa normal. 


Ela pegou a escova com cuidado, o frio do metal lhe dando aquele arrepio esquisito, lembrando-a de que nem calor conseguia mais sentir. Foi quando um corvo pousou na janela de um prédio e ficou encarando. Ela riu de canto, achando engraçado como até os bichos pareciam perceber a fome que ela tentava segurar.


A necessidade de sangue apertava no peito como se tivesse uma fera presa dentro dela, louca pra sair. A fome tava a ponto de explodir, e ela sabia que não ia segurar muito mais. Mas não podia se dar ao luxo de perder o controle, não agora, não ali. Precisava esperar a cidade acordar, ver as ruas cheias de gente distraída, sem ideia do que andava entre elas.


Ela passou a língua pelos dentes, sentindo os caninos crescerem de leve. Mas segurou firme a escova, lembrando o que os mais velhos ensinaram: "Disfarça, disfarça até o fim." Colocou a escova no bolso do casaco, uma lembrança do que devia fazer.


Com o sol começando a espreitar e os humanos saindo pelas esquinas, o cheiro de sangue fresco invadindo o ar, ela respirou fundo — um hábito que há muito não tinha sentido — e se misturou na multidão. Por enquanto, o disfarce segurava, e a fome, embora latente, ainda estava sob controle...

domingo, 10 de novembro de 2024

 Anjo negro,

suas asas,
sombras que dançam,
sem luz para guiar.

Olhos profundos,
eco de silêncio,
não há céu,
só noite eterna.

Caminha
entre os homens,
sem alma para salvar,
mas com a dor
que o céu esqueceu.

A Última Noite de Natal

 



Em uma pequena cidade, onde a neve caía suavemente sobre as casas decoradas com luzes cintilantes, algo sombrio se escondia nas sombras da noite. Ela observava da janela de sua mansão isolada, o vento frio batendo contra as vidraças, como se quisesse invadir aquele lugar tão distante das festividades.


Seraphina, uma vampira que tinha vivido por séculos, sentia uma estranha sensação de nostalgia a cada Natal que passava. Ela nunca poderia mais participar das celebrações, seus olhos vermelhos queimando com uma saudade que ela preferia ignorar. O Natal era para os vivos, para aqueles que ainda podiam sentir a alegria das reuniões familiares e os sorrisos compartilhados ao redor da árvore.


Mas ela... ela já não se importava mais. O sangue que corria em suas veias há tanto tempo era mais frio que qualquer inverno, e as tradições de Natal, com suas promessas de renovação e esperança, estavam além de sua compreensão. 


Naquela noite, porém, algo mudou. Seraphina se viu caminhar até a porta da mansão, atraída por uma sensação inexplicável. Algo na cidade a chamava, algo que ela não podia explicar, uma sensação de calor humano que se misturava com o cheiro da neve fresca. 


Ao sair para as ruas, ela viu a cidade iluminada, as luzes coloridas refletindo nas fachadas das casas e as risadas distantes dos que se reuniam em celebrações. O perfume doce das sobremesas natalinas preenchia o ar, mas Seraphina não se aproximava de ninguém. Ela sabia o que isso significava. Ela sempre soubera.


Mas naquela noite, algo a fez se aproximar da praça central, onde uma árvore de Natal majestosa se erguia, decorada com enfeites dourados e vermelhos. Havia uma pequena banca, onde as crianças se reuniam ao redor de um homem vestido de vermelho, que distribuía presentes. Ela observou por um tempo, sua visão aguçada distinguindo a felicidade nos rostos das crianças, os sorrisos radiantes que ela nunca mais experimentaria.


Um dos meninos, com os olhos curiosos, olhou para ela. Seus olhos eram brilhantes, puros, inocentes. Ele sorriu, achando-a apenas uma figura solitária na noite fria, como tantas outras. Mas, ao contrário de todos os outros, ele não sentia medo. Talvez porque, no fundo, ele soubesse que ela era algo diferente.


"Você também está sozinha?" ele perguntou, sem saber o que realmente significava a pergunta.


Seraphina olhou para ele, sentindo uma estranha emoção invadir seu peito. Ela estava sozinha há tanto tempo que já não sabia o que fazer com a solidão que lhe tomava a alma. A pergunta simples, mas carregada de uma empatia pura, fez sua visão turvar-se por um momento.


"Sim," ela respondeu, sua voz suave como o vento. "Estou sozinha."


O menino se afastou por um momento, pegando um presente da caixa ao lado do bom velhinho e estendendo-o para ela.


"Talvez isso possa te ajudar a não se sentir tão sozinha," ele disse, com a sinceridade de quem ainda acredita nas coisas boas da vida.


Seraphina olhou para o pequeno presente, a dor da solidão apertando seu coração milenar. Ela poderia tomar o presente, mas sabia que não havia mais o que lhe alegrasse. Ela sabia que, para ela, o Natal jamais seria o mesmo. E, no entanto, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu um fragmento de algo... algo muito parecido com a esperança.


O menino sorriu para ela, e Seraphina se afastou na noite fria, com o presente ainda em suas mãos. Talvez, naquela noite, ela tivesse encontrado algo mais precioso do que o sangue que sempre procurou. Algo que ela jamais esperaria encontrar: um lembrete de que, mesmo para uma vampira, o Natal podia, por um instante, trazer a luz de volta.


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